Pensar o Teatro Nacional São João: comunicado na sequência do fórum aberto

No passado dia 24 de março, a PLATEIA - Associação dos Profissionais das Artes Cénicas juntámo-nos para defender a importância do trabalho das direções artísticas nos teatros públicos.

Pode parecer que esta urgência não é prioritária num país com tantos outros problemas, mas é. Porque uma direção artística é mais do que fazer a programação de uma grelha de espetáculos. É conceber, acompanhar e executar um projeto artístico de forma livre e independente, sem ingerências políticas ou de qualquer espécie. A atual situação do Teatro Nacional de S. João não parece garantir essa liberdade e independência, o que é um indício preocupante.


A PLATEIA organizou um fórum aberto em formato híbrido, para permitir que a discussão tivesse um alcance mais amplo. Porque o interesse, tal como o teatro, é nacional. Fizemos também questão de nos encontrar fisicamente, porque foi sobre teatro que estivemos a conversar — e o teatro acontece no presente, com pessoas reais, no mesmo espaço e tempo. Assim, junto ao Teatro Nacional São João, na Praça da Batalha, reuniram-se cerca de 30 pessoas, às quais se juntaram outras 50 online.

Inicialmente, foi proposto ao TNSJ que esta conversa se realizasse num dos espaços do teatro, mas o pedido foi recusado por impossibilidade de “promover ou coorganizar com entidades terceiras debates públicos sobre o tema enquanto o concurso estiver a decorrer”, facto que lamentamos. Porque o lugar desta discussão deveria ser no teatro, uma vez que ele é público e é o assunto da discussão.


A convocatória para este fórum surgiu na sequência da abertura de um primeiro concurso público para a direcção artística do TNSJ e da consequente desistência do candidato eleito, bem como da entrevista de Pedro Sobrado ao Público no dia 15 de Março. Nessa entrevista foi anunciado que o TNSJ ficaria sem direcção artística durante um ano e que a programação seria assegurada por “uma equipa de sete pessoas que envolve vários quadrantes da casa: da administração à produção, passando pelo sector dramatúrgico, a área do pensamento, a mediação cultural e a documentação”.


É preocupante que o TNSJ se encontre sem direção artística, e que, segundo os prazos estabelecidos no novo concurso que entretanto foi anunciado, se prevê que a entrada em funções da nova direção artística ocorra apenas em janeiro de 2026.

Deixamos claro que a PLATEIA não se posiciona contra nenhum dos concorrentes, a administração do TNSJ, a tutela ou o próprio concurso. Gostaríamos, sim, que este tivesse aberto mais cedo e tememos que não esteja a cumprir o seu propósito.


Neste sentido, colocamos as seguintes questões:

  • Porquê a opção de nomear uma “equipa de programação” que “envolve vários quadrantes da casa”, em vez de nomear uma direção artística por 12 meses - nomeadamente a extensão do mandato de Nuno Cardoso por mais um ano?

  • Como foi nomeada esta “equipa de programação”? Por quem é constituída? Porque não foi comunicada publicamente? 

  • Para além do trabalho de programação, as restantes dimensões de uma direcção artística estão a ser asseguradas? Por quem?

  • Porque é que o novo concurso só abre a 1 de abril e não abriu logo em janeiro, considerando que o regulamento se mantém praticamente inalterado (passa a prever a seriação de resultados e houve a troca de um elemento do júri)?

  • E, considerando a urgência da resolução desta situação, qual a necessidade de um prazo de 6 meses (até 1 de Outubro) para a deliberação final, quando este deveria ser o mais célere possível?

  • A direção artística a designar por este novo concurso não poderá ficar pré-condicionada com as declarações de Pedro Sobrado (que, neste momento, acumula funções de administração e de programação) ao Público, que insinuam uma linha programática para o teatro?

  • Não influenciarão estas declarações as candidaturas de possíveis proponentes?


Não consideramos compreensível nem admissível que um Teatro Nacional fique sem direcção artística durante um período tão alargado quanto um ano. Assim, defendemos:

  • A nomeação imediata de uma direção artística provisória, para assumir funções até à entrada em funções da nova direção artística.

  • O encurtamento do prazo da deliberação final do concurso que agora decorre.

  • A inclusão de membro(s) no júri do concurso cujo perfil se assemelhe ao procurado, e que estes jurados sejam verdadeiramente externos ao TNSJ.

  • A garantia de que as declarações de Pedro Sobrado não condicionem candidaturas e opções artísticas no novo concurso.