Discurso concentração 14 de Janeiro
"Obrigado pela vossa presença neste momento tão importante
para a cultura em Portugal e em particular na cidade do Porto.
Em 1988, a Secretária de Estado da Cultura decidiu que no
Porto havia Companhias de Teatro a mais. E que estas, ou se fundiam umas com as
outras ou seriam afastadas do apoio público às artes. E assim aconteceu. Os
artistas do Porto recusaram aceitar esta ordem arbitrária e foram todos, sem
exceção, afastados do apoio às Artes.
Ao longo dos último 25 anos
Vimos nascer e morrer um Ministério da Cultura em Portugal;
Vimos nascer e morrer um Teatro municipal na cidade do
Porto;
Vimos nascer e morrer a possibilidade de definir, de forma
democrática, as políticas para o setor cultural;
Em 2013 os principais países europeus, e a própria União
Europeia, reforçam os seus orçamentos para a cultura, reconhecendo-a como
imprescindível para a construção do futuro. Mas em Portugal o orçamento para a
cultura desceu abaixo do limiar da sustentabilidade, comprometendo a
pluralidade e o acesso dos públicos. E sobretudo comprometendo o futuro dos
nossos filhos, porque um povo sem cultura será sempre um povo sem independência
política e económica.
O Governo constantemente justifica-se com a falta de
recursos. É mentira. Não se trata só de recursos.
Trata-se de democracia - para discutir políticas, que não
há.
Trata-se de proporcionalidade nos cortes – para garantir um
futuro sustentável – que não há;
Trata-se de de competência – para organizar um concurso com
a devida antecedência – que não há;
Trata-se de conhecimento do país – e e não apenas das folhas
de cálculo e dos modelos matemáticos – que não há;
E é neste contexto que, 25 anos depois, a cidade do Porto
volta a viver a mesma situação.
Novamente uma gabinete da capital.
Novamente um Secretário de Estado da Cultura.
Novamente uma ideia de Engenharia Social.
Mas desta vez de uma forma discreta, sem ultimatos, apenas o
aviso de abertura de um concurso que de um dia para o outro vira de pernas para
o ar a política de apoio às artes, sem qualquer diálogo, sem qualquer
discussão, sem ouvir as associações representantes do setor.
E mais uma vez, o teatro do Porto a ser descriminado e a ser
colocado numa situação ainda mais negativa do que a do resto do país.
Do outro lado da rua, o nº 190, naquela casa com uma
varanda, temos a antiga sede dos “comediantes” uma companhia que há 25 anos foi
aniquilada, de forma gratuita, pelas
políticas dirigistas do governo central.
E estamos aqui hoje – e tantos de nós ainda nem sequer
tinham nascido naquela altura - para
dizer que não aceitamos viver num Estado de Sítio em que a Constituição foi
suspensa e a política se faz por despacho
Vamos voltar-nos, todos juntos, para aquela casa.
Vamos levantar as folhas vermelhas.
Vamos guardar um minuto de silêncio.
Porque não aceitamos a repetição desta história.
Carlos Costa
Direcção Plateia